terça-feira, 14 de julho de 2009

Noite


Morcegos e corujas alçam seus vôos,

os pombos se refugiam.
A brisa de corpo quente,

informe e envolvente roça os caules,

as copas das mangueiras.
Meu corpo andarilho levanta o pó da rua.
A luz opalada da lua banha as nuvens

esparramadas sobre o manto gasoso, difusando
Seus raios e projetando minha sombra errante sobre o asfalta duro.
Silêncio.
Meus próprios passos me seguem à retaguarda, retardos.
Ao longe se ouve o som
Dos escapes automotivos.
Cães ladram e se recolhem.
Espíritos rodopiam,
sussurram e gritam
reunidos nos cabos elétricos
do cruzamento da esqüina.
Almas atropeladas.
Me espiam, me seguem, me empurram.
Tropeço.
São fantasmas; são meus; são camaradas.
Alguém parece falar próximo.
Não dá para ouvir. De onde vem?
Ah! vem de cima; do alto.
São os astros. Estrelas ululantes,
planetas mudos, galáxias portentosas,
constelações festivas.
Ruídos surdos do infinito
que vibram os átomos atmosféricos
vindos do vácuo frio até os meus cabelos.
Minhas roupas, cúmplices do meu corpo,
me abraçam, me protegem, juram fidelidade
e subserviência até a cama.
Na minha chegada, o quarto escuro, denso, ar ocioso.
A luz vem e o denso ocioso foge com a sombra foge da luz.
A cama vazia, fria, desperta e me pergunta:
onde esteve? Por que demoraste?
Então me aproximo; sento-me ao seu lado e logo deito sobre ela,
e ela me abraça, me protege.
Nos envolvemos sob o lençol e colamos o rosto
doce amante e confidente. Dormimos.
O sol não tarda a dissipar toda essa bela fantasia.

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