segunda-feira, 30 de março de 2009

A Noite

A noite... Ah! A Noite -
"Bela e Sensata"
A noite dos poetas:
por eles sempre cantada
Em versos bêbados de sangue, álcool e amor.
A noite aceita as estrofes,
Os espaços aflitos,
As metáforas nervosas,
Os eufemismos famintos de abrigo e calor.
A noite acomoda a febre do criador,
Pois é musa vadia e carinhosa;
A noite é mãe sem pudor.
Mas não procures loucuras na noite.
Os alucinados somos nós,
Os desejos somos nós,
As ilusões somos nós;
Quem Prometeu as chamas fomos nós,
Quem colocou São Jorge na lua com os dragões fomos nós.
A noite é crua - escura e fria.
Se duvidas, pergunta ao mendigo que dorme nela:
Ele te dirá que o fogo e a febre vêm da cachaça que bebe,
E não da noite que o abraça,
Porque a noite não abraça,
Não te abraça, adoradora das sombras.
Ela apenas te aceita como aceita qualquer um.
O que te abraça é essa noite estranha e inesperada,
Essa nebulosa poética que temos em comum;
É essa serenata selvagem de mitos urbanos,
Essa canção cheia de harmonia e distorção:
Melodias que fecham teus olhos,
Que abrem tua boca,
Que penetram em teu corpo bem devagar...
A noite... Bah!
A "Noite" é nada
Comparada à noite,
NOITE IMENSA que levas pra cama,
A noite que trazes insana dentro de ti;
A noite que eu quero encontrar,
A noite que eu quero possuir.

*Alguém com ela foi conversar*

As linhas deste papel
Hoje me fizeram relembrar
Daquelas paralelas de sangue
No chão a marcar
Me lembro apenas do grito
Que no ouvido insiste em ficar
Um grito agudo e sofrido
Que me faz pensar
No porque daquelas marcas
Que não querem secar
Um sangue vivo
Que chega a enojar
Mas elas estão lá
Para mostrar
Que mesmo que se tente
Não há como escapar
A morte está em todo lugar
E um dia ela irá lhe sorrir
Pode apostar
Mas não fique assustado
Se a encontrar
Estenda-lhe a mão
E vá com ela passear
Pois assim como as paralelas no chão
Alguém foi com ela conversar.

*Pequena Bailarina*

A pequena bailarina parou
Onde está a mão que dá corda?
Eis então o começo
Estamos no meio de uma sinfonia
A um passo da viagem de amanhã
E a um palmo da morte
Tic-tac, tic-tac,
a mente diz que o tempo se arrasta
O súbito grito cessa
Na cozinha está o copo,
onde está a criança?
Passos no asfalto
A pequena mancha de vermelho a relva
Tic-tac, tic-tac,
soa o relógio do inquisidor
Ele comanda a sinfonia agora
Não é um demônio, é um homem
Eis então o fim
A pequena bailarina parou
Onde está a mão que dá corda?
Jaz sob a terra
Envolta no véu da morte...

*Soneto da Noite*

Ah, que Tristeza flutua nos luares,
mais agora que o mundo vai morrendo,
e um vulto envolto em sonhos
pelos aresem raios e grinaldas vem descendo...
Nos teus olhos sinto anjos florescendo...
dou-te a alma se à noite me beijares
no perfume que o escuro vai tecendo
aos fantasmas que em névoas vêm aos pares.
E em mim gotejam almas:
noite nuanas árias lutulentas que cantaste,
na febre, na loucura que flutua...
És sangue de rosas, espinhos da haste,
a alma da morte, veneno da lua...

* Agora sinto a paz*

Depois da dor somente a paz
Meu corpo já não me responde mais
Tento me mover mas é em vão
Quando abro os olhos só há escuridão
Onde estou não sei dizer
Não consigo me lembrar
Tento então fazer alguma coisa
Mas não consigo me levantar
Estou preso ao chão
E percebo não ter mais as mãos
Minhas pernas também não as sinto
Só então percebo meu pé de um lado caído
Quando menos espero luzes são acesas
E me vejo em pedaços
Não há tempo nem para gritar
Somente vejo aquele brilho da lâmina em meu pescoço
E a minha cabeça a rolar
Fecho os olhos
E sinto o sangue ainda quente a rolar
Estou morto e agora sinto a paz...

* Aurora *

Querido!
Por favor......
guarde as borboletas...
Faça-me sentir o suspiro do amanhecer
Na brisa que demora para sumir
Mas desaparecendo na névoa.
meus passos e razões
Já é tarde para chorar
Por pilares estendidos no chão
As noites passaram
Feito pesadelos...
as dores concentraram-se no medo
Perdido e sozinho na solidão
Querido!
Guarde os momentos......
os sorrisos que nunca dei
Aqueles dias no canto refletindo
Que fizeram ressuscitar a arte dentro de mim
Mil pragas enterradas
Meu segredo desvendado
Meu pão amassado
Porque a besta consome minha vitalidade
Resgata minhas agonias
E finge não existir sofrimento atrás daquela máscara
Por dentro daquele homem
Estão os olhos do Ser que desvendou o pecado
Ainda resiste
Mostrando-me ameaças
E faz do olhar...
um vazio frio e escuro...

* Cinzas*

Pesadelos constantes invadem meu sono;
dilaceram o pouco de razão que ainda há...
Instantes de frustração que duram uma eternidade
Um oceano de desejos reprimidos que me afogam em angústia e dor
Instantes seculares
Flores negras cobrem a terra sobre meu corpo
por onde rastejam sentimentos
Arder em chamas...Cair no vazio...
Navalhas afiadas rasgando a carne...
Gota a gota o suor febril, o sangue rubro te abandonando,
segundos eternais, delírios pavorosos, cinzas ao sol...
Andando com meus próprios pés sob a água fria que me fere...
Com meus olhos cegos sigo só em meus pesadelos...
O sol que vaga anula tudo o que sou tudo que sei...
Instantes de frustrações que duram uma eternidade
As flores secam...
As folhas enudecem as árvores no longo inverno
Pesados os olhos por toda a maldade que vejo...
Pesados os ombros por toda a maldade que carrego...
Afogo-me com as calúnias que proferi
A culpa que carrego é meu pesar é o sudário que cobre minhas feridas
Pálidos os corvos dançam em rodas-moinho sobre a carne podre
Minha carne...Já fui um anjo, mas os erros que cometi!
Pesadelos constantes invadem meu sono
Agora, me deixe, me deixe aqui calado e só,
embriagado com meus horrores...

* Cada um é seu próprio Deus*

O vulto negro que anda pelas ruas em trajes mortais
a lenda que assombra os dias atuais
Poeta das trevas e da melancolia
usando palavras das tumbas
existentes em meu negro coração
que me atormenta por não ter um corpo vivo...
Estou morto no fracasso... Condenado,
renegado no teatro de faces esquecidas
Esccuro na noite sepultado na lua pálida de maldições.
Triste fúneral sem cores, sem flores
Minha mente insana,
vaga no mundo de horrores
e malditos rancores...
Olharam minha tristeza mas,
não acompanharam as lágrimas
que caíram dentro do caixão de meu corpo não-vivo
Em meio as montanhas cadavéricas
Eu canto o maldito canto dos mortos
Do baile de envelhecidos crânios
no tom de ossos despedaçados
Estou condenado a vida não vida
Se existe mesmo um Deus...
Por que, me deixastes na podridão?
Se existe mesmo o diabo...
Por que ele também não aparece?
Eu me recuso a acreditar em coisas iguais a estas
Cada humano é seu próprio deus tudo ocorre após seu próprio ato...

*Poucas Palavras*

Sinto que não vale mais a pena tentar,
parece que estou presa entre quatro paredes
que vão me sufocando cada dia mais
sem conseguir me libertar
A minha tristeza continua infinita consumindo
minha felicidade corroendo meu coração
minha alma fica em silencio minha ingratidão
e meu egoísmo são os únicos sentimentos que me restam
Será que existe solução mesmo que distante
para combater essa dor que me consome dos pés
a cabeça dor maldita, infinita, maligna.
No silencio da solidão as minhas lagrimas
caem queimando meu rosto desfigurando
minha face por fora pareço viva
mas por dentro já não existo não respiro...

*Ilusão*

Enquanto passam as horas,
Meus pensamentos teimam comigo,
E a tinta que vos escreve,
Continua sem rumo,
Vêm as palavras confusas,
E os pensamentos desconexos,
Prontos para enlouquecer-me,
Neste mar de incertezas,
Vão-se os minutos que tornan-se anos,
E a mente calada zombando de mim,
Ri de todas essas minhas desilusões,
Quanto mais perto pareço chegar,
Mais longe estou,
E entendo o porque do meu afastamento!

*ANJOS*

Anjos caídos, anjos perdidos;
Anjos mortos, anjos esquecidos;
Anjos que ja foram, anjos que ficaram;
Anjos que há muito tempo se mataram
Asas negras, machucadas.
Rostos pálidos, faces cortadas
Olhares triste, lagrimas de saudade
Sorrisos falsos, um pouco de realidade.
Anjos solitários, um anjo com medo,
Anjos inocentes, um anjo morreu cedo
Anjos depressivos, um anjo maltratado
Anjos tristes, um anjo abandonado
Um anjo suicida Um anjo enterrado
Um anjo sem vida Um anjo ao meu lado...

sexta-feira, 27 de março de 2009

*Dança da Morte*

Giro em minhas saias mais uma vez.
Novamente...
Paetês brilham,
Purpurina voa
pela passarela da dança.
Dessa vez minha dança é triste.
Danço a morte,
pois esqueci como louvar a vida.
O Tule preto rondando... Rodando...
O corpete apertado,
Tirando o ar,
Sufocando... Matando...
Aos poucos,
Profundamente doloroso.
E mais uma vez a voz ordena:
“Dança, anjo das trevas!"
E rodopio pelo palco
Teatro de palhaços,
Manipulados pelo demônio.
O corpo sem vida,
Dançando conforme a melodia.
"Dança mais, maldita"
Mais uma vez a voz grita
E como fantoche,
Brinquedo em suas mãos,
Giro... Rodopio... Danço...
E horas nesse martírio.
"Pare já não agüento mais..."
- imploro em lágrimas-
“Dance!"
diz sem nenhuma piedade
E essa tortura não tem fim,
Talvez tenha mesmo que ser assim.
Mas... Quem sabe...
Um dia...
Quando acabar toda essa agonia...
Sobrarão, ensangüentadas, as minhas sapatilhas...

*Amor Infernal*

Mostrou-me as profundezas do mundo inferior
No jardim tortuoso de meus sonhos
deixastes caídas as flores,
Rosas essas não colhidas e já secas.
Oh Morgoth, deste-me tanto amor
Alimenta-me a alma desiludida
nesse mundo tão sujo
Se ao fitar-te,
meus olhos são de rainha,
Saiba, meu doce amor,
que és tu quem me inspiras.
Também as esperanças perco eu,
mas as reencontro ao ver-te,
Tão sublime e encantador
Em sua carruagem, segurando as correntes.
Guia-me ao inferno, querido.
Não tenho medo estou contigo
A ti fundir-me mais tenho como meta
Enfrentando os problemas
Destruindo o ódio que nos cerca.
Oh, meu amado,
Esse gosto de sangue que sentes
E o pecado escorrendo por nossos corpos,
São frutos de minha loucura, meu devaneio.
Quando sinto tua cabeça recostada em meio seio.

*O Veneno da Serpente*

Carrego em minha boca
o veneno da serpente,
que me escorre pela garganta
acumulado entre os dentes.
Tenho nas entranhas um misto de
sentimentos, a irá da víbora
que desliza em segredos, traiçoeira
e escondida, aguardando meus desejos.
Carrego em meu peito
uma naja enrolada,
do lado esquerdo ela me prende
do outro ela me abraça.
Controlando-a
a cada dia que se passa,
não deixando seu veneno
ultrapassar minha couraça.
E vou mantendo esta serpente...
não deixando o seu veneno se
destilar em minha mente.

*O Medo*

O medo bloqueou minha estrada
limitou meu espaço,
acorrentou minha alma,
travou meu passo.
O medo cercou minha trilha
enforcou-me num laço
calou minhas palavras,
me tornou seu escravo.
O medo matou dentro de mim
uma semente chamada liberdade
aquela que brota com o vento
e semeia a felicidade.
O medo confinou meu ser,
nas entranhas do destino,
num emaranhado
como de um arame farpado,
arruinado e desprovido.
O medo me condenou,
me batizou
com minhas lágrimas,
selou minha boca
cegou minha verdade,
esfacelou meu sonho
e amordaçou minha vaidade.
O medo amputou minha força
Esquartejou minha coragem
Esfaqueou meu peito...
Tornou-me um covarde.
O medo escureceu meu brilho
Apagou minhas estrelas
Secou meu riacho
Murchou minha flor
Tornou-me seu capacho.
O medo quebrou o cristal polido,
estilhaçou em mil pedaços minha face
de vidro, não sou mais eu ,
agora sou apenas...cacos perdidos.